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domingo, 16 de janeiro de 2011

A força do ensino à distância no país



Cursos realizados virtualmente ganham espaço no Brasil, mas exigem cuidados e habilidades específicas de quem pretende estudar on-line


DEISE MACHADO DE OLIVEIRA
DIÁRIO SP


Com quase três mil cursos disponíveis, o ensino à distância (EAD) vem furando o bloqueio do preconceito das aulas ministradas on-line para tornar-se uma realidade na educação brasileira. E 2011 promete ser um ano ainda melhor para a área. O governador eleito Geraldo Alckmin já anunciou, por exemplo, que vem por aí a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Além disso, o presidente da Associação Brasileira de Educação à Distância (Abed), Fredric Litto, diz que o Ministério da Educação (MEC) também guarda boas novas para este ano.

Mas se é verdade que a oferta de cursos à distância (livres, graduações, pós, tecnológicos e educação de adultos e jovens) é crescente, é fato também que eles ainda seguem envoltos em dúvidas: a EAD é para todos? Quem pode cursar? O que é preciso fazer antes de se matricular? Que cuidados tomar?

Fredric Litto destaca a pró-atividade como uma característica essencial para um candidato a aluno de EAD. No mundo virtual, é necessário que o estudante tenha iniciativa e saiba se gerenciar apesar da orientação de um professor, ou nem adianta ele apostar nessa modalidade de ensino.

"Quem precisa ser elogiado ou cobrado por um educador, não serve para esse tipo de ensino", ressalta o presidente da Abed. "O aluno de EAD tem que ser decidido e pró-ativo. E deve lidar com a solidão", completa o diretor de EAD da Universidade Nove de Julho (Uninove), Marcos Wesley da Silva.

Independência nos estudos

O estudante George Hiroshi concorda. Para ele, a falta de contato com o professor é um aspecto difícil do ensino à distância. Aos 23 anos, formado em física, Hiroshi acaba de concluir uma especialização em gestão escolar pelo programa de pós-graduação da Universidade Gama Filho. "O contato com o educador é mais interessante que o relacionamento virtual", fala. Em contrapartida, ele destaca a possibilidade de o aluno administrar seu tempo como uma das qualidades de EAD.

De acordo com os especialistas, outras características necessárias para quem pretende fazer um curso on-line são disciplina, capacidade de automotivação e paciência. Maturidade, conforme a pedagoga Virgínia Torres, é fundamental para concluir os estudos, sem a cobrança de um professor.

Virgínia trabalha com EAD e terminou em 2010 uma especialização em sua área pelo Senac Distrito Federal. Agora, realiza uma graduação em filosofia. Para ela, o ensino à distância exige que o aluno "corra mais atrás, por isso, aprende mais."


A pedagoga Virgínia Torres trabalha com educação à distância e já concluiu alguns cursos nessa modalidade

Especialistas recomendam pesquisar entidade

Para não correr o risco de apostar em um curso à distância irregular são necessários alguns cuidados, como certificar-se sobre a qualidade da instituição que oferece o ensino. "Se ela tiver boa reputação em cursos presenciais, provavelmente, se sai bem oferecendo EAD", comenta Fredric Litto, presidente da Abed.

Segundo ele, hoje, a associação tem cadastradas 250 escolas nesse tipo de modalidade (virtual). E, conforme Litto, a situação em relação aos cursos on-line melhorou de dez anos para cá, mas, ainda assim, não há, por exemplo, regulamentação para as opções de ensino médio e pós-graduação. O conservadorismo do brasileiro seria, de acordo com o especialista, um dos principais motivos de ainda haver preconceito em relação à educação à distância no país.

A EAD é a saída para um maior acesso à educação: "Se o Brasil continuar com pretensão de ser uma economia global, precisará qualificar mão de obra. Para estruturar os cursos presenciais vão uns 40 anos. A EAD é a única forma de triplicar o número de brasileiros em cursos de nível superior."



Cinco ganhadores do Prêmio Nobel utilizaram essa metodologia

Frederick G. Hopkins - Prêmio Nobel de Medicina (1929)

Wole Soyinka - Prêmio Nobel de Literatura (1986)

Ronald Coase - Prêmio Nobel de Economia (1991)

Derek Walcott - Prêmio Nobel de Literatura (1992)

Nelson Mandela - Prêmio Nobel da Paz (1993)


Ensino à distância existe desde o século 19

Pelo fato de ser ministrada hoje em um ambiente virtual, a educação à distância pode parecer uma grande inovação. Mas novidade mesmo é a tecnologia. O ensino à distância existe desde o século 19. Nessa época, a Universidade de Londres ministrava cursos nessa modalidade. Mahatma Gandhi fez seu bacharelado em direito dessa forma, sem sair da Índia, via correspondência.

No Brasil predomina o aprendizado virtual, mas existem também aulas presenciais

A EAD no Brasil pode ter momentos presenciais. A maior parte do tempo, entretanto, a aprendizagem se dá virtualmente. Daí a necessidade de o aluno ter o equipamento básico exigido pelo curso, assim, ele pode participar de chats e videoconferências, por exemplo. O site da Associação Brasileira de Educação à Distância (Abed) - www2.abed.org.br - reúne informações para quem quer saber mais sobre o assunto, inclusive a relação de cursos,
como graduação, pós e aperfeiçoamento.

Fonte:http://www.diariosp.com.br/_conteudo/2011/01/18152-a+forca+do+ensino+a+distancia+no+pais.html

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011



Olá!!!
Vocês que lêem meu Blog. Espero que gostem das postagem e que elas ajudem a tirar dúvidas.
Quero a ajuda de vocês...isso mesmo...gostaria que postassem comentários.
Os comentários serviram para verificar se os artigos são bons...ou se devo mudar alguma coisa no Blog.

Obrigada pela sua atenção...bjos.

Alfabetizar letrando: Ferramentas para a aprendizagem da leitura e escrita


A Voz do Professor
Cássia Ravena Mulin de Assis Medel Pedagoga e escritora. Especialista em Supervisão Escolar. Atua como Orientadora Pedagógica no CIEP 277 João Nicoláo Filho "Janjão", na E. M. Francisca Pinheiro Teixeira, Cantagalo-RJ e no CELC Centro Educacional Labor de Cordeiro. Autora do livro Projeto Político-Pedagógico, Construção e Implementação na Escola, Editora Autores Associados. Consultora Pedagógica e Palestrante.Contatos pelo ravenamedel@yahoo.com.br



O professor deve fornecer ferramentas para o aluno construir o seu processo de aprendizagem da leitura e escrita.

Na etapa inicial, isto é, na Educação Infantil, a escola tem obrigação de ajudar o aluno a se apropriar da escrita alfabética e informatizar o seu uso.

Para realizar essa tarefa, o professor não deve deixar o aluno se esforçar sozinho para entender “por que coisas que se fala parecido tendem a ser escritas de modo parecido o professor deve ajudar o aluno a refletir sobre palavras retiradas de textos lidos (além de outras que são significativas para o aluno)”. É essencial praticar a leitura e a escrita no cotidiano escolar “trabalhar com palavras”, propiciar aos alunos refletir sobre elas, montá-las e desmontá-las.

Nessas ocasiões, mesmo ainda sem saber ler convencionalmente, os alunos poderão se apoderar de algumas estratégias de leitura: estratégias de antecipação, de checagem de hipóteses, de comparação, entre outras ( utilizadas por um cidadão letrado. Explorando e também produzindo textos observados pelo professor ou por outro aluno já “alfabetizado”), os alunos estarão desenvolvendo conhecimentos sobre a linguagem que se utiliza nos textos que percorrem a sociedade letrada.

Com base nos estudos e pesquisas de hoje em dia, “Alfabetizar letrando” requer: Democratizar a vivência de práticas de uso da leitura e da escrita e ajudar o aluno a, ativamente, reconstruir essa invenção social que é a escrita alfabética.

Se a escrita alfabética é uma invenção cultural, seguindo as idéias de Vygotsky, os professores, como membros mais experientes da cultura devem auxiliar os alunos a prestar atenção/analisar/refletir sobre os pedaços sonoros e escritos das palavras. Isso, é claro, não seria, de forma alguma, usar métodos fônicos ou treinar a “produção de fonemas” num mundo sem textos e sem práticas de leitura.

A partir de 1983, através de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, o professor começou a repensar a sua prática cotidiana em sala de aula. Nos dias de hoje, sabemos que um indivíduo plenamente alfabetizado é “aquele capaz de atuar com êxito nas mais diversas situações de uso da língua escrita. Dessa forma, não basta apenas ter o domínio do código alfabético, isto é, saber codificar e decodificar um texto: é necessário conhecer a diversidade de textos que percorrem a sociedade, suas funções e as ações necessárias para interpretá-los e produzi-los.” O processo de alfabetização ocorre durante toda a escolaridade e tem início antes mesmo da criança ingressar na escola. Implica em tomar como ponto de partida, o texto, pois este é revestido de função social e não mais as palavras ou sílabas sem sentido. O professor deve buscar um vocabulário que tenha realmente significado para a classe, isto é, que seja retirado das suas experiências. Atualmente, a cartilha não é o recurso mais favorável à aprendizagem da leitura e da escrita, principalmente, porque não tem qualquer significado para o aluno e apresenta textos desconexos, apenas garantindo a “memorização das famílias silábicas.”

Para Teberosky, deve ser considerada no processo de alfabetização, a diferenciação entre a escrita e a linguagem.

Segundo a referida autora, a escrita deve ser entendida como um sistema de notação, que no caso da língua portuguesa é alfabetização (conhecer as letras, sua organização, sinais de pontuação, letra maiúscula, ortografia, etc.). A linguagem escrita é definida como as formas de discurso, as condições e situações de uso nas quais a escrita possa ser utilizada (cartas, bilhetes, notícias, relatos científicos, etc.)

Inicialmente, o professor precisa tomar por base o texto e não mais as palavras-chaves. O texto deve ser o elemento fundamental para inserir a criança no universo letrado’.

Além da escrita espontânea, pode ser considerado também o trabalho com modelos, que possibilitam ‘as crianças comparem suas hipóteses com o convencional. Através de listas de palavras de um mesmo campo da semântica (brinquedos, jogos prediletos, comidas preferidas, personagens de livros e gibis, nomes dos alunos da classe, frutas, etc.) das parlendas e de outros textos, as crianças, hoje, podem ampliar suas concepções e progredir na aquisição da base alfabética, como na compreensão de outros aspectos (a grafia correta das palavras, o uso de sinais gráficos, etc.).

Simultaneamente, os diversos tipos de texto necessitam aparecer como objeto de análise, propiciando aos alunos diferenciá-los, conhecer melhor suas funções e características particulares. Para que isso ocorra, é essencial que saibam interpretá-los e escrevê-los. A expressão pessoal (bilhetes, cartas, diários, receitas culinárias, etc.) deve fazer parte do trabalho do professor, no entanto, esta deve vir acompanhada pela escrita de outros textos, inclusive com o apoio de modelos.

Cabe à escola, desde a Educação Infantil, alimentar a reflexão sobre as palavras, observando, por exemplo, que há palavras maiores que outras, que algumas palavras rimam, que determinadas palavras tem “pedaços” iniciais semelhantes, que aqueles “pedaços” semelhantes se escrevem muitas vezes com as mesmas letras, etc.

Não se trata de apresentar fonemas para que os alunos memorizem isoladamente os grafemas que correspondem a eles na nossa língua. Como o aprendizado do sistema de escrita alfabética é, acima de tudo, conceitual, o que é preciso é que os alunos possam manipular/montar/desmontar palavras: observando suas propriedades; quantidade e ordem de letras, letras que se repetem, pedaços de palavras que se repetem, e que tem som idêntico. O professor deve estimular o desenvolvimento das habilidades dos alunos de reflexão sobre as relações entre partes faladas e partes escritas, no interior das palavras.

O uso das palavras estáveis como os nomes próprios e de certos tipos de letra, como a letra de imprensa ou letra script, tem uma explicação. Quanto às palavras que se tornam “estáveis”, o fato de o aluno ter memorizado sua configuração, possibilita-lhe refletir sobre as relações parte-todo tentando desvendar o mistério daquelas relações; por que a palavra inicia com determinada letra e continua com aquelas outras naquela ordem? Por que falamos tantos (pedaços) sílabas e tem mais letras quando escrevemos? Quanto ao uso das letras de imprensa ou script, o fato de terem um traçado mais simplificado, e de cada letra aparecer mais separada das demais, possibilitando ao aluno saber onde começa e termina cada letra, permite ao aluno investir no trabalho cognitivo, fazer uma reflexão necessária à reconstrução do objeto de conhecimento, isto é, o sistema alfabético.

O professor deve garantir que as práticas escolares ajudem o aluno a refletir enquanto aprende e a descobrir os prazeres e ganhos que se pode experimentar quando a aprendizagem do sistema de escrita é vivenciado como um meio para, independentemente, exercer a leitura e a escrita dos cidadãos letrados.

Fonte:http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=1084

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Resumo: Pedagogia do Oprimido

Revista Lusófona de Educação
ISSN 1645-7250 versão impressa



Rev. Lusófona de Educação n.5 Lisboa 2005


Como citar este artigo
Paulo Freire (36.ª ed. 2003; 1.ª ed. 1970)

Pedagogia do Oprimido

Rio de Janeiro: Edições Paz e Terra, 184 p.



Neste livro, Paulo Freire propõe uma explicação da importância e necessidade de uma pedagogia dialógica emancipatória do oprimido, em oposição à pedagogia da classe dominante, que contribua para a sua libertação e sua transformação em sujeito cognoscente e autor da sua própria história através da práxis enquanto unificação entre acção e reflexão. Nesta pedagogia, o educador, através de uma educação dialógica problematizante e participante, alicerçada na confiança no povo, na fé nos homens e na criação de um mundo onde cada homem seja valorizado pelo que é, onde a liberdade do povo deve atender à perspectiva do oprimido e não do opressor, procura conscientizar e capacitar o povo para a transição da consciência ingénua à consciência crítica com base nas fundamentações lógicas do oprimido. Assim, caracteriza-se por um movimento de liberdade que surge a partir dos oprimidos, sendo a pedagogia realizada e concretizada com o povo na luta pela sua humanidade.

A obra estrutura-se em quatro partes que são precedidas de uma breve introdução, na qual Paulo Freire chama a atenção para o medo da liberdade ou o denominado perigo da conscientização enquanto processo de evolução de uma consciência ingénua ou mítica para uma consciência crítica, recorrendo à radicalização crítica, criadora e consequentemente libertadora enquanto unidade dialéctica entre subjectividade e objectividade, a qual gera um actuar e pensar certos na e sobre a realidade para transformá-la, o que se transforma em ameaça à classe dominadora, que pela sectarização, obstáculo à emancipação dos homens, transforma o futuro em algo preestabelecido a par da manutenção de formas de acção negadoras da liberdade. Assim, a Pedagogia do Oprimido implica uma atitude e postura radicais baseadas no encontro com o povo através do diálogo enquanto instrumento metodológico que permite a leitura crítica da realidade, partindo da linguagem do povo, dos seus valores e da sua concepção do mundo, transformando-se numa luta pela libertação dos oprimidos.

No capítulo 1, o autor procura justificar o título «pedagogia do oprimido» explicando que o homem tem de transformar-se num sujeito da realidade histórica em que se insere, humanizando-se, lutando pela liberdade, pela desalienação e pela sua afirmação, enfrentando uma classe dominadora que pela violência, opressão, exploração e injustiça tenta perpetuar-se.

Este capítulo divide-se em quatro temas. O primeiro refere-se à questão da consciência oprimida e da consciência opressora e ao problema da dualidade gerada pela submissão. A pedagogia do oprimido, humanista e libertadora, caracteriza-se pela pedagogia dos homens que lutam num processo permanente pela sua libertação, pelo que tem necessariamente de ser feita «com» (p.32) o povo através da reflexão sobre a opressão e suas causas, que gera uma acção transformadora, denominada por «práxis libertadora» (p. 36).

O autor destaca a situação concreta de opressão e os opressores, assentes nas suas «consciências necrófilas» (p. 45) e «fortemente possessivas» (p. 45) e na «cultura do silêncio» (p. 47). Refere Paulo Freire que na luta pela liberdade é necessária a crença no povo através de um comprometimento autêntico, de uma comunhão e de uma aproximação que geram um renascer.

No que respeita à situação concreta de opressão e os oprimidos, o autor refere que só na convivência com os oprimidos se poderá compreender as suas formas de ser, de comportar e de reflectir sobre a estrutura da dominação, sendo uma delas a dualidade existencial que leva a assumirem atitudes fatalistas, religiosas, mágicas ou místicas, que não permitem a superação da visão inautêntica do mundo e de si.

No que diz respeito à necessidade da comunhão dos homens para se libertarem, somente quando o oprimido descobre o opressor e se compromete na luta pela sua libertação começa a crer em si mesmo, sendo «acção cultural» para a liberdade por ser acção com o povo. A acção libertadora como resultado da «conscientização» (p. 54) do povo traduz o carácter eminentemente pedagógico da revolução, em que o método é a própria consciência enquanto caminho para algo apreendido com intencionalidade, em que educador e educandos numa tarefa em que ambos são sujeitos desmistificam a realidade e criticam-na para conhecê-la recriando o conhecimento, descobrindo-se como «refazedores» (p. 56) permanentes.

No capítulo 2, o autor fala sobre o conceito de concepção bancária da educação como instrumento da opressão, caracterizada como um depósito, uma dádiva ou uma acção «assistencializadora» (p. 60) para com o povo, considerado tábua rasa. Esta pedagogia caracteriza-se por relações fundamentalmente narradoras e dissertadoras entre um sujeito narrador, o educador, e objectos ouvintes, os educandos, por falar da realidade como algo parado, estático, compartimentado e completamente alheio à experiência existencial dos educandos e por recorrer à palavra esvaziada da dimensão concreta que devia ter. A educação é vista como um acto de depositar, o homem é considerado um ser adaptável e ajustável, em que educador e educando se arquivam por não haver criatividade, transformação e saber, pois, segundo o autor, só existe saber na invenção, reinvenção, busca inquieta, impaciente e permanente que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros, o que se traduz numa busca esperançosa. Na visão bancária da educação o saber é uma doação fundamentada na absolutização da ignorância, manifestação instrumental da ideologia da opressão, que visa transformar a mentalidade do oprimido e não a situação que o oprime.

Neste capítulo o autor defende que os homens são seres da procura e a sua vocação ontológica é humanizarem-se.

Segundo Paulo Freire, os homens educam-se entre si mediatizados pelo mundo, pela educação problematizadora que exige a superação da contradição educador-educando e o diálogo, e em que ambos se tornam sujeitos do processo e crescem juntos em liberdade, procurando o conhecimento verdadeiro e a cultura pela «emersão» (p. 70) das consciências para uma inserção crítica na realidade. O autor chama a atenção para que em nenhum propósito, mesmo na liderança revolucionária, o homem aliene os outros nas suas decisões mas sim que os incentive à luta pela sua emancipação no mundo.

No capítulo 3, o autor aborda a questão da dialogicidade enquanto essência da educação como prática da liberdade. O diálogo assente na palavra é visto como fenómeno humano, pois segundo Paulo Freire não há palavra verdadeira que não seja práxis, enquanto acto de criação que procura a conquista do mundo para a libertação dos homens.

Na perspectiva de Paulo Freire só há diálogo com um profundo amor ao mundo e aos homens, com humildade sincera e mediante a fé no poder de criar do homem, sendo assim um acto de criação e recriação, de coragem e de compromisso e de valentia e liberdade. Assim, o diálogo faz-se numa relação horizontal baseada na confiança entre os sujeitos e na esperança transformada na concretização de uma procura eterna fundamentada no pensamento crítico. O diálogo começa na busca do conteúdo programático que para o educador-educando, dialógico, problematizador, não é uma doação mas uma devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo dos elementos que entregou de forma desestruturada. A educação autêntica, nas palavras do autor, faz-se de «A com B, mediatizados pelo mundo» (p. 84), incidindo a sua acção na realidade a ser transformada com os homens, conhecendo as condições estruturais em que o pensar e a linguagem do povo dialecticamente se constituem.

A investigação temática implica uma observação simpática, atitudes compreensivas e uma percepção crítica da realidade do povo, constituída pelo seu conjunto de dúvidas, anseios e esperanças, por parte do educador para que expresse uma acção cultural, procurando os investigadores como objectivo da educação problematizadora centrarem-se na consciência máxima possível e não na consciência real. O programa tem de sair do povo e o tema central deve ser o conceito antropológico de cultura descoberto numa visão crescentemente crítica.

O capítulo 4, centra-se nas teorias da acção antidialógica e nas teorias da acção dialógica. O autor começa por reafirmar que os homens são seres da práxis e que emergem do mundo objectivando-o, podendo conhecê-lo e transformá-lo com o seu trabalho. O diálogo com os oprimidos é um compromisso para a libertação que implica a transformação da realidade, porque os homens são comunicação e diálogo enquanto análise crítico-reflexiva sobre a realidade. Afirma Paulo Freire que evitar o diálogo é temer a liberdade e não crer no povo, pelo que chama a atenção para que as lideranças revolucionárias não se deixem arrastar para posturas características das classes dominadoras, como a absolutização da ignorância, a descrença no homem e a impossibilidade do diálogo.

Neste capítulo o autor começa por referir as características da teoria da acção antidialógica, que são a conquista, a divisão do povo, a manipulação e a invasão cultural. O segundo tema em destaque refere-se às características da teoria da acção dialógica, que são a co-laboração, a união, a organização e a síntese cultural.

A conquista, que implica um sujeito e um objecto conquistado, impõe o antidiálogo para oprimir económica e culturalmente para manter a opressão. A co-laboração é referida por Paulo Freire em oposição à conquista, visto que os sujeitos encontram-se para a transformação do mundo juntos através do diálogo que funda a comunicação, nomeadamente através da problematização da sua própria opressão. O autor chama a atenção para o facto de a liderança revolucionária estar comprometida com uma comunhão com o povo que provoca a «co-laboração» (p. 165), denominando Paulo Freire esta revolução de biófila na medida em que é criadora de vida.

Dividir para manter a opressão é outro instrumento das elites opressoras, que recorrem a formas focalistas de acção que dificultam a percepção crítica da realidade, procurando manter o seu status quo. Na união para a libertação, em oposição ao dividir para manter a opressão, a liderança deve obrigar-se à procura da união dos oprimidos entre si e com ela para a libertação, visto que a acção unificadora é indispensável à prática libertadora.

A manipulação é referida pelo autor como outro instrumento de manutenção da opressão que leva à massificação, que anestesia as massas para não pensarem, pois ao pensarem ganham «consciência revolucionária ou consciência de classe» (p. 146) que gera a procura incessante pela libertação. Sobre a organização, em oposição à manipulação, o autor refere que, ao procurar a unidade, a liderança já se encontra a efectuar a organização das massas populares. Segundo Paulo Freire, a organização é um momento altamente pedagógico em que a liderança e o povo fazem juntos o aprendizado da autoridade e da liberdade verdadeiras que ambos como um só procuram instaurar com a transformação da realidade que os mediatiza.

A invasão cultural, caracterizada por manipulação de conquista, é também uma acção antidialógica, alienante e uma forma de dominar cultural e economicamente, procurando incutir a inferioridade intrínseca nos invadidos. Sobre a síntese cultural, em oposição à invasão cultural, o autor refere que toda a acção cultural é uma forma sistematizada e deliberada de acção que incide sobre a estrutura social para mantê-la ou transformá-la, constituindo-se na dialeticidade «permanência-mudança» (p. 179).

Em conclusão, esta obra de Paulo Freire é um trabalho de conscientização, recomendado a todos os homens e mulheres que se preocupam com a sua existência, e a todos os educadores em particular, pois tem um carácter político na medida em que, fazendo uma abordagem à valência emancipatória da educação enquanto instrumento de libertação de consciências e da necessidade da actuação do homem na sua própria existência, afirma que não é suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas que se disponha a transformar a realidade.

A educação problematizadora caracteriza-se pela intencionalidade, afirmando e fundamentando que alfabetizar é conscientizar, enquanto capacidade de admirar, objectivar, desmistificar e criticar a realidade envolvente do mundo no qual o homem ao descobrir-se seu construtor descobre-se sujeito da cultura e como tal se afirma como sujeito livre contra qualquer regime de dominação que visa a massificação, numa luta pela transformação e conquista e efectivação da sua liberdade alcançada pela práxis.



Arlinda Cabral



Formato Documento Eletrônico (ISO)
CABRAL, Arlinda. Pedagogia do Oprimido. Rev. Lusófona de Educação. [online]. 2005, no.5 [citado 06 Janeiro 2011], p.200-204. Disponível na World Wide Web: . ISSN 1645-7250.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Educação e Valores

Os grandes temas

Sociedades contemporâneas requerem alto grau de solidariedade

Não há sociedade moderna bem sucedida onde os habitantes não tenham uma boa dose de cidadania e responsabilidade social. De fato, o avanço tecnológico requer graus de confiança ("trust") muito elevados entre as pessoas, sobretudo no trabalho.

Não faz muito tempo, a própria arquitetura refletia um grau limitado de solidariedade. Nas cidades grandes, as portas eram espessas, as trancas robustas e as janelas gradeadas. As pessoas que tinham algo a perder, andavam armadas ou traziam seus séquitos para protegê-las. As ruas não eram para as mulheres. Em períodos anteriores, as cidades eram muradas.

Nos negócios, ou as transações eram à vista ou se passavam entre pessoas conhecidas e respeitadas, onde era o fio da barba que garantia a palavra.

Na época da escravidão, para garantir que os escravos cumprissem suas obrigação eram contratados funcinários pára vigiá-los dia e noite, eram os feitores. Mas adiante, era o dono do negócio que vigiava seus funcionários com o rabo do olho, sentado no caixa, ou de seu gabinete envidraçado, dando para a fábrica ou para os escritórios. Os que tinham que ser confiáveis eram parentes ou amigos. Os subalternos não tinhama maiores responsabilidades e apenas tinham que ser supervisionados para que não parassem de trabalhar. Sabotar o processo produtivo era arriscado e deixava rastros.

Com o progresso econômico e social, as cidades passaram a depender muito mais do grau de civismo da população. A segurança aumentou, a responsabilidade cívica aumentou. As cidades passaram a ser construidas para uma sociedade onde a violência ficou esporádica. Os assuntos de segurança passaram a ser cuidados pela polícia e pelo judiciário, ao invés de serem resolvidos por conta própria. A justiça por suas próprias mãos passou a ser inaceitável.

A complexidade do processo produtivo requereu maior grau de disciplina própria e responsabilidade social da parte de todos. Simplesmente, os imperativos da produtividade e da vida social harmônica não permitem mais um controle policialesco da empresa e da rua.

Com o aparecimento dos processos produtivos fortemente baseados na micro-eletrônica, com a complexidade crescente das maquinárias, com as mudanças frequentes de linhas de produção e com a necessidade constante de decisões e ajustes, os que estão lá embaixo na pirâmide produtiva não podem ser fiscalizado efetivamente, tem que ser confiáveis. Mais ainda, eles passam a ser parte integrante do processo decisório, tendo que atuar, decidir, mudar.

No caso de indústrias de alta tecnologia, a vulnerabilidade é total. O mais reles subalterno pode facilmente trocar uma linha de programação de algum computador, dentre as centenas que existem, e com isso paralizar a fábrica por longo período. Estas fábricas não mais pode se permitir funcionários descontentes. Porisso, no Vale do Silício, os funcionários a ser dispensados só ficam sabendo depois de sairem do espaço físico da fábrica. Seus objetos encontrados no escritório são rapidamente recolhidos e levados a ele depois que se dirige ao estacionamento. Nem um segundo dentro da empresa depois de despedido.

O Brasil dos contrastes: a crise de valores e a modernização do processo produtivo

O Brasil encontra-se em uma encruzilhada difícil. Para aumentar sua competitividade, tem que adotar rapidamente processos produtivos complexos onde cada membro da empresa é um agente crítico, não apenas pelo que se pede dele em matéria de decisões, iniciativas responsabilidade, mas também pela vulnerabilidade do processo produtivo diante de um comportamento anti-social de sua parte.

Ao mesmo tempo, nas cidades grandes e mais revolvidas pelas migrações, mudanças sociais e marginalização de parte dos seus habitantes, o pouco de civismo e responsabilidade social que vinhamos acumulando ao longo do tempo está ruindo. Há uma crise moral corroendo o tecido social e reduzindo o sentido de lealdade social e civismo. Há uma população marginalizada que não tem nada a perder e portanto não se comporta com os padrões de sociabilidade requeridos para o funcionamento correto de uma cidade moderna.

Ou seja, a sociedade precisa mover-se na direção dos padrões de responsabilidade social requeridos para uma vida de qualidade e para viabilizar os novos processos produtivos. No entanto, em muitos dos seus segmentos, está movendo-se na direção oposta. Anomie política, delinquência, alienação, falta de confiança no próximo geram custos altíssimos para controlar o comportamento anti-social. Gasta-se uma fortuna para controlar de forma inadequada um comportamento selvagem. A quebra do Contrato Social tem um custo em reais que é assustador. O tempo e o dinheiro requerido para defender-se da desonestidade do próximo é enorme e os resultados nada comparáveis com as vantagens da honestidade cotidiana, da moral careta que faz sociedades avançadas conseguirem muito mais com menos recursos.

O novo papel das escolas de recuperar os velhos valores

Sobretudo nas áreas onde há mais pobreza e problemas sociais, a crise de valores e a falta de coesão social são problemas sérios. Diante de uma falta de tradição da sociedade e da desestruturação familiar, a escola recebe um encargo ainda mais importante de desenvolver cidadania e responsabilidade social.

Pedimos à escola que, antes de tudo, cultive no aluno a moral convencional ("ou careta"). São os princípios fundamentais requeridos para o funcionamento correto e harmônico de uma sociedade: justiça, tolerância, responsabilidade social, veracidade, honestidade pessoal, assiduidade, pontualidade, cumprimento do dever, compaixão e assim por diante. Os grandiloquentes objetivos de consciência social e preocupação com os problemas da humanidade não substituem esta moral careta do cotidiano que permite o funcionamento da sociedade no seu dia a dia.

Em outros momentos, a escola pública cumpriu este papel. Mas sua degradação nos últimos decênios comprometeu este desempenho. Todavia, nos anos recentes houve um sólido princípio de soerguimento da escola, permitindo voltar-se a pensar nos seus papeis no domínio não cognitivo.

O ensino pelo exemplo e não pelo sermão

Uma das medidas usualmente pensadas é o reforço das disciplinas de "moral e cívica", isto é, a introdução destes valores explicitamente nos currículos. Obviamente, são esforçøs benvindos e nada pode haver contra eles.

Mas hoje sabemos que as crianças aprendem pelo exemplo e não pelo sermão, pelas lições de moral e preleções. É vivendo em uma escola (sociedade) onde se pratica no cotidiano os valores de responsabilidade social e cidadania que se aprendem estes mesmos valores.

Começamos a vislumbrar o caminho da solução quando vemos que a escola que transmite os valores que queremos é uma escola íntegra, digna e com auto-respeito, segura do seu funcionamento e missão. É esta mesma escola que ensina a lição e que transmite valores. É o que sempre identificamos como uma boa escola. Em outras palavras, a busca da escola que transmite valores é a mesma busca da escola que mostra competência em suas funções de transmitir um currículo, ensinar a ler, escrever, contar e pensar.

A escola que ensina valores é a escola digna e íntegra

Se é a escola séria com auto-estima aquela que transmite os valores da nossa cultura e da convivência harnmônica e produtiva, é fácil concluir que a tarefa de desenvolver a escola que gera civismo é exatamente a mesma tarefa de melhorar a escola em sua integridade.

Devemos entender que ao melhorar a escola em sua integridade, no seu ensino, na sua missão de oferecer uma educação de qualidade, estamos fazendo exatamente o que é necessário para gerar uma escola que transmite os valores esperados. Porque a escola é íntegra e oferece um bom ensino, ela é capaz de transmitir os valores que desejamos.

Devemos nos preocupar explicitamente com o o necessário soerguimento dos valores da sociedade brasileira. Mas isso não se faz sem melhorar a escola no seu todo. Não há soluções para melhorar o desempenho da escola nesta direção que não seja uma solução global de melhorar a escola em tudo que ela faz de central (o que não quer dizer que a escola deva fazer de tudo um pouco, é preciso foco).

Valores para pobres e valores para ricos?

Não podemos imaginar que haverá um civismo para os pobres e um civismo para os ricos. Isso seria tolice. Não obstante, como ricos e pobres não frequentam os mesmos meios e nem as mesmas escolas, os problemas que encontram uns e outros não são os mesmos.

Sobretudo nas grandes cidades e nas áreas mais depauperadas ou problemáticas, os pobres encontram uma escola péssima e desmoralizada. É uma escola que não pode transmitir os valores que não cultiva ela mesma. É uma escola que não é capaz de contrarrestar a desestruturação do comportamento social da sua vizinhança. Uma escola que mostra aos alunos que eles não conseguem aprender, que cultiva a repetência, que deixa cicatrizes na auto-estima dos alunos não pode ir muito longe na transmissão de valores. É uma escola que precisa virar uma escola boa, para que possa ser uma âncora, um emblema dos valores cívicos que uma sociedade tanto os necessita. É o problema clássico encontrado por todas as partes. Felizmente, estamos andando para frente neste particular.

Não é esta a escola dos ricos que frequentam estabelecimentos particulares - ou algum público que sobreviveu às crises. Mas esta escola de ricos tampouco está cumprindo os seus papeis. Esta pode ser uma escola que transmite os currículos escolares corretamente. Seguramente será uma escola que transmite certos valores e que ensina ao aluno a cultivar certos hábitos socialmente desejáveis. Até aí tudo bem.

Todavia, ela frequentemente transmite também alguns valores da sociedade brasileira que não são compatíveis com o Brasil que desejamos. Historicamente, vivemos uma transição, passando de uma sociedade semi-feudal, aristocrática, elitista (no sentido hereditário e não meritocrático da palavra). Nossas elites aprenderam a defender seus privilégios, aprenderam a pensar apenas nos seus interesses, alienando-se das preocupações com a sociedade como um todo. Aprenderam a pensar mais em interesses de grupos do que interesses coletivos (a visão corporatista).

Portanto, em certa medida, as escolas de rico transmitem os valores de uma sociedade tradicional e de privilégios que queremos eliminar. É extraordinário ver a falta de consciência social das novas gerações que inevitavelmente assumirão as rédeas da sociedade e da economia. Esta é uma agenda aberta.

Organização do seminário

A progressiva degradação das escolas brasileiras

Imagens mostrando a má qualidade das escolas, seja do ponto de vista físico seja da sua organização e competéncia para transmitir conhecimentos e valores. Sugerir a impossibilidade de transmitir valores em uma escola dilapidada e de moral baixa.

O soerguimento das escolas.

Conjunto de tentativas de recuperar as escolas, mostrando esforços dos professores, diretores e pais. Apresentar casos interessantes. A mensagem subjacente é que escola que re-adquire a sua dignidade é escola que passa a ser capaz de influenciar os alunos e transmitir os valores desejados. A busca é a mesma, o desenvolvimento dos valores é um sub-produto de fazer uma escola boa.

O discurso e o exemplo

Mostrar através de exemplos e entrevistas como os valores são adquiridos pela prática. Incluir não apenas a escola mas também a família.

Focalizar a vida da escola mas incluir também o mau e o bom exemplo dos pais.

?Verdade (cola, falsas promessas da escola)
? Igualdade (não discriminar contra pobre)
? Justiça (exemplos de injustiça comuns dentro da escola, correção de provas, perseguição)
? Tolerância (aceitar pessoas diferentes, conviver com valores e culturas diferentes, integraçao deficientes)
? Não Violência (solução pacífica de conflitos, drogas)
? Disciplina pessoal (prestar atenção à aula, fazer dever, adiar a gratificação das necessidades)
? Hierarquia (visão da hierarquia como uma forma necessária de organização para fazer funcionar uma organização, em contraste com opressão ou uso abusivo da autoridade, como obedecer a autoridade sem conflitos e como a autoridade se submete a regras de como chegar lá e como se comportar)
? Pontualidade (alunos ou professores atrazados)

Fonte: www2.redepitagoras.com.br


Claudio de Moura Castro

Educador, economista, presidente do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras, autor de trinta e cinco livros e mais de trezentos artigos científicos, é articulista da revista "Veja" e membro do Conselho do Instituto Social Maria Telles (ISMART).

Educação: responsabilidade da família ou da escola?



Coluna "Assuntos de Família"


Fábio Henrique Prado de Toledo


Uma mãe contou-me, certa vez, que se reuniu com o marido, já tarde da noite, para tratar de um problema com o filho: o garoto não obedece. Depois de uns minutos de conversa e, sem nenhuma conclusão, o pai disse: “mas não há muito que se preocupar, faltam apenas dez dias de férias. Com a volta às aulas, quem sabe a escola dá um jeito nele...”.

O problema proposto e a forma com que se buscou a solução nos permitem fazer uma indagação: a quem cabe a responsabilidade pela educação dos filhos, aos pais ou à escola?

O Estatuto da Criança e do Adolescente, muito sabiamente, consagra em seu artigo 19 que toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família. E digo que é sábia essa norma porque penso que os pais são os principais educadores de seus filhos. E isso é assim porque existe uma relação natural entre paternidade e educação. A paternidade consiste em transmitir a vida a um novo ser. A educação é ajudar a cada filho a crescer como pessoa, o que implica em proporcionar-lhes meios para adquirir e desenvolver as virtudes, tais como a sinceridade, a generosidade, a obediência, dentre muitas outras.

Os filhos nascem e se educam em uma família concreta. A família é uma atmosfera que a pessoa necessita para respirar. Entre seus membros costuma haver laços de afeto incondicionais que fazem um ambiente propício para que a educação se desenvolva. Nesse sentido, é ela essencial para a formação da pessoa. Os valores que se cultuam no lar irão marcar de forma indelével o homem e a mulher da amanhã.

Muito bem, mas se a função primordial na educação cabe aos pais, o que compete à escola? Ou, mais ainda, como essa pode ajudar os pais na educação dos filhos?

É natural que os pais deleguem algumas funções educativas à escola, como por exemplo, o ensino das várias disciplinas apropriadas a cada faixa etária, mas daí não se pode concluir que possam abandonar essas funções delegadas. Aliás, somente se delega aquilo que é próprio. E em sendo delegada tal atribuição, cabe aos pais acompanhar como está sendo desempenhada.

Um ponto essencial nessa relação entre os pais e a escola é cuidar para que haja coerência entre a educação que se desenvolve no colégio e o que os pais ensinam em casa.

Essa consideração de que os pais ocupam lugar de primazia na educação dos filhos não coloca a escola num segundo plano na função educativa. Pelo contrário, as instituições que reconhecem o papel da família, sem o que a formação que proporcionam não terá eficácia, cuidam de desenvolver também uma educação voltada para os pais. As imensas dificuldades que eles enfrentam em educar os filhos no mundo moderno devem despertar as escolas para que passem a ajudá-los, dando-lhes conhecimentos acerca de como devem atuar na formação dos filhos.

Não há dúvida de que ser pai e mãe hoje implica em ser profissional da educação. Isso significa que têm de se adiantarem aos problemas naturais de cada idade dos filhos. Por exemplo, é muito comum que enfrentem dificuldades em fazer com que as crianças durmam sozinhas nos primeiros anos de vida, assim como são muito freqüentes as crises de rebeldia na adolescência. Diante disso, a escola, como colaboradora da família, deve estar preparada para dar formação aos pais, auxiliando-os com conhecimentos técnicos e com um acompanhamento personalizado nessa difícil tarefa de educar.

Em vários países há instituições de ensino que têm adotado um programa que consiste em manter contatos periódicos entre os pais e os professores. E isso ocorre não apenas quando o filho quebra a vidraça do colégio, mas mesmo que não haja nenhum problema aparente. Trata-se de reconhecer o que há de bom em cada aluno e, a partir disso, traçar um plano pessoal de melhora, com atuações concretas a serem implementadas em casa e na escola. Os resultados têm sido bem interessantes.

Para isso é necessário, porém, que se admita a importância dos pais na educação, e que a escola, colaboradora desses, os ensinem a educar, atuando ambos coerentemente em uma mesma direção.





Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Articulista do Correio Popular de Campinas e de alguns outros jornais. Casado, é pai de 8 filhos.

e-mail: fabiotoledo@apamagis.com.br

Publicado no Portal da Família em 25/10/2010

Concursos Públicos


Todo ano é a mesma coisa...ainda bem!!!
São várias possibilidades de concursos em várias prefeituras. E o que avaliar.
Se você já está estabelecida, contente com sua colocação e com a sua situação...permaneça aonde está. Mas se algo a surpreendeu e o melhor é procurar outro local...vai em frente.
Procure por melhores salários, por um plano de carreira e uma estabilidade. Não tenha medo de mudar. Lembre-se ninguém vai valorizar melhor você do que você mesma.
Agora é a hora...novo ano...novos ares.
O importante é se sentir bem e isso também vale para o financeiro.

Vamos a luta e que venham os concursos...